Manhã de domingo, como qualquer outra, o orvalho corria pela vegetação do canteiro da casa e do quintal da família Neves, raios vermelhos vinham carinhosamente abraçar a casa. Cenário comum todo dia para Pedro, um jovem de 12 anos, filho de pais abastados, que infelizmente não puderam curar a doença do pobre garoto; sofria de esquizofrenia.
Ele caminhava todo dia para a escola, até cumprimentava seus vizinhos. Apesar de sua doença, era um garoto simples, sempre repetindo a rotina, casa-escola, e, de maneira alguma, pensava que algo mudaria, sua vida era tão simples que o imprevisível, quando chegou, foi como a tormenta do mar tentando puxar um barco para as profundezas do azul-marinho.
Ele continuou no seu trajeto, andava despreocupado. Um ruído, bem ao longe, como o simples farfalhar de um arbusto, preenchia sua mente, porém de maneira suave e até que relaxante. Minutos se passaram que mais pareciam horas, Pedro teve a impressão de que estava andando em círculos, e a cada passo que ele dava, parecia estar mais longe de casa, mas não mais perto da escola.
O ruído aumentou a intensidade, o suave farfalhar agora parecia adquirir um tom de sussurros, não demorou... Pedro ouviu vozes. No momento em que começou a reconhecê-las, suas pernas já estavam cansadas, sentou e começou a conversar como as vozes. Passaram-se horas e Pedro já não conseguia mais raciocinar, as vozes se transformaram em berros, gritos aterrorizantes que mais pareciam vir de filmes de terror.
Ele não sabia o que fazer, começou a pôr as mãos sobre os ouvidos e começou a tremer freneticamente. Sem aguentar, gritou a saiu em disparada pela rua, clamando por ajuda, ou simplesmente pela existência de um qualquer. Pedro parou, deixou de lutar, sua visão ficou turva, a noite recaía sobre seus ombros, que parecia pesar o mundo.
Pedro caiu de joelhos, ergueu seus prantos pela última vez para a rua, na esperança de achar consolo. A terra se deformou, se contorceu em uma expressão bizarra de flexibilidade e fez o que ele tanto pediu a ela. Pedro foi engolido pela tenebrosidade da própria loucura, para viver na calmaria que nunca alcançara.
Filipe Menezes de Vasconcelos
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