Ministrando aulas de Redação para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Tenente Rêgo Barros, percebi que o potencial dos meus alunos/escritores não podia ficar restritito aos muros do colégio. Acho um desperdício que textos tão bons e interessantes sejam lidos apenas por quem os escreve e por quem os avalia - como acontece em quase todas as escolas do país. Por isso criei este blog, para compartilhar os textos interessantes, curiosos, às vezes hilários e sempre muito criativos desses adolescentes - meus alunos - potencias escritores e "escrevedores" praticantes da ETRB.















Leiam, curtam, deliciem-se, comentem e compartilhem conosco essa "viagem" boa que é a leitura.















segunda-feira, 28 de março de 2011

Segundo turno

             Desempregado havia oito meses, já não fazia exigências quanto a encargos. Afinal, o que haveria de mais em ser guarda-noturno de um bosque? No máximo ele se depararia com um macaco fujão às três da madrugada.
            A primeira noite foi pacata, Guido não se atreveu a pôr sequer um pé para fora da portaria. Nenhum barulho foi ouvido que não fosse a copa das árvores verdejantes.
            Na noite seguinte, munido de uma lanterna e um cassetete, foi, passo a passo, percorrendo o labirinto úmido e frio que era aquele bosque. Os cipós caiam sobre sua cabeça, a folhagem era arrastada com o vento, que em nada se diferenciava dos filmes de Indiana Jones. Os animais dormiam como se estivessem sedados. Tudo estava tranquilo demais, tranquilo demais para um bosque no centro da cidade.
            Guido levantou a cabeça e avistou um ponto de luz vermelha no alto de um açaizeiro envolto pela relva. Não era mais um daqueles postes “naturebas”, era apenas um açaizeiro focando luz vermelha – o que por si só mudava as coisas de estranhas para macabras. Guido esfregou os olhos uma vez, duas vezes, juntou o resto de coragem que tinha e seguiu em direção à palmeira.
            A cada passo, sussurros estranhos eram notados, como vozes ofegantes vindas de lugar nenhum. Rangeres se tornavam cada vez mais próximos, enquanto a árvore crescia à frente de Guido. Chegou ao pé do açaizeiro e agora os sons eram ensurdecedores, mas já que estava lá, não iria voltar atrás. Apalpou o tronco e... Guido acabava de acordar com o uniforme completo, no meio da relva. Mas, espere um momento... Cadê o açaizeiro? Cadê a  luz? Foi tudo um sonho?
             Guido esperou ansiosamente seu turno e partiu em direção ao açaizeiro de novo, mas dessa vez com uma câmera. De novo acordara em meio à relva.
             Ligou a câmera e o que viu não poderia descrever. Logo ao tocar a palmeira pela segunda vez, ela partiu-se ao meio e a luz ficou mais intensa. As lentes da câmera focavam o buraco no centro do açaizeiro. Surgia um caldeirão de almas cozinhando em pleno purgatório, inclusive a de Guido. E o corpo que assistia sorrindo a tal festival de horrores, já não era dele.

Jamilly Padilha

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