Era uma casa aparentemente abandonada, de aspecto antiquado e de dimensões não muito grandes, porém causava-lhes espanto a extensão do imenso quintal que contornava sua estrutura, interligando-se com o jardim até então sem vida. Localizava-se um pouco distante da cidade e poucas pessoas viviam por perto. Porém, não havia dificuldade alguma para chegar ao centro partindo de lá.
A casa estava à venda há muito tempo. A notícia de que um forasteiro se interessara em comprar chocou os moradores das redondezas e logo se espalhou pela cidade. O estranho logo trouxe seus pertences para organizá-los dentro da casa. Ficou satisfeitíssimo com o resultado, mas sentia que faltava algo. O jardim e o quintal vazios davam um aspecto morto a casa. Decidiu que precisava de plantas.
Acordou bem cedo. Ao retornar da cidade, pôs-se a trabalhar em seu quintal. Logo foi deitar-se após terminar no fim da tarde, ansioso pelo que teria após algumas semanas.
Estava com alguns arranhões e sujo de terra ao acordar na manhã seguinte, por algum motivo. Simplesmente se arrumou, pôs alguns curativos e saiu pela porta da frente. Não pôde deixar de soltar um suspiro de espanto: inexplicavelmente, o que o homem havia plantado no dia anterior já estava enorme. Estava feliz, mas assustado com o que poderia ter causado essa anormalidade.
Era tarde da noite. Estacionou o carro e dirigiu-se à porta da frente, sonolento. Tropeçou em algo grosso e firme no caminho – uma raiz de árvore. Levantou-se e tentou enxergar o que havia na escuridão dos fundos da casa. Sua pasta caiu de seus braços. Havia árvores e plantas de tamanhos e formas monstruosas. Além disso, também se mexiam como se possuíssem consciência. Uma das raízes se enroscou no seu pé enquanto se distraíra com o susto. Enroscou-se com tanta força que, por mais que tentasse, era impossível conseguir se soltar. Gritou o mais alto que pôde, mas não adiantou. Ninguém o escutaria a essa hora. As raízes foram lhe arrastando até o meio do quintal, onde lhe prenderam. O homem sentiu o solo envolvendo seus membros, como se passassem a ser parte dele. Sentia dores, formigamentos, até que perdera a consciência. Já não era mais o mesmo.
Passaram-se anos. O que foi a moradia de um forasteiro um dia voltou a ser uma velha casa abandonada, porém com uma diferença. Quem passasse na frente da casa conseguiria ouvir gritos histéricos de sofrimentos vindos da única e gigante árvore que descansava no quintal dessa casa, cujo tronco revelava o desenho quase evidente de que formava uma expressão humana de melancolia e dor, sendo a única parte viva nos limites daquele terreno. Era como se toda a vida fosse fornecida somente para que crescesse mais e mais.
Vitória Sinimbu
amei esse texto =D Foi um conto fantástico realmente FANTÁSTICO em todos os sentidos! Vitória está de parabéns (:
ResponderExcluirUm espetáculo. Até ia plantar uma babosa em casa hoje, mas desisti.rs
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